Pacto Brutal: o maior acerto do true crime brasileiro

Pacto Brutal
Imagem Reprodução: HBO Max

Por que continuamos culpando as mulheres até depois de mortas?

Pacto Brutal é, sem dúvidas, imperdível para fãs de true crime por ser uma das produções do gênero mais bem produzidas dos últimos anos. Mas, quão simplista é resumir a pior dor da vida de uma família inteira ao número de acessos de um streaming? A verdade é impactante e está presente em todos os momentos de Pacto Brutal, série documental da HBO Max, que conta em 5 episódios a história do assassinato da atriz Daniella Perez.

Na grande maioria dos relatos criminais, a narrativa nos faz esquecer que a vítima era, antes de mais nada, um ser humano. Uma pessoa com sonhos, com uma família, e que deveria ter todas as peculiaridades respeitadas, sem sensacionalismo barato. Aqui, o trabalho dos roteiristas é impecável no que diz respeito à humanização de Dani, que nunca foi apenas uma vítima. Ela era uma mulher livre, feliz, uma excelente filha e esposa, uma grande amiga. E a série não deixa que o público se esqueça disso até o final.

Nada além da verdade

Nada é mais brutal que a verdade. As fotos do corpo de Daniella, sem cortes ou tarjas, podem chocar o espectador, e devem. Tudo o que aconteceu naquela noite é chocante, é assustador e digno de repúdio. Não existe outra maneira de se contar a verdade, se não, apontando os fatos.

Os relatos presentes em Pacto Brutal vão muito além da construção de uma cena de crime, dos detalhes mórbidos de uma perícia ou um conturbado julgamento. Todos esses elementos estão presentes, de forma pontual e muito bem feita, porém, não podemos esquecer que esses relatos compõem a verdade, muitos anos ofuscada pela mídia porque o mistério e as suposições vendiam mais revistas.

Gloria Perez é, até hoje, julgada por um Brasil repleto de machismo, ódio às mulheres e uma paixão inexplicável pelo sofrimento do outro. Na contramão do que se fez por todo esse tempo, Pacto Brutal não mente, não omite e faz questão de deixar claro quem são os verdadeiros culpados dessa história. Culpabilizar, da forma que for, qualquer pessoa que não os assassinos de Dani, é tão baixo e frio como o ato em si.

Por fim, me pego sempre pensando no que Gloria diz durante a série, descrevendo o dia seguinte ao crime. Apesar de tudo, a vida continua, o mundo não para, e, diante do caos, o absurdo e a dor, ela precisou continuar e batalhar muito para que, só hoje, 30 anos depois, toda a verdade fosse revelada com detalhes. Que a luta dela e de tantas mães que buscam por justiça para seus os filhos não seja apagada nunca mais.

Nota: 5/5

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