90% do elenco de dublagem de A Mulher Rei é composto por atores negros 

Pôster do filme estrelado por Viola Davis. A estreia ocorreu nesta quinta (22) no Brasil. (Imagem/Divulgação)

A representatividade saltou a tela. Agora, quem for conferir o filme “A Mulher Rei” dublado nos cinemas, poderá conferir as vozes de um elenco composto majoritariamente por negros. Ao saber da demanda do filme e o que ele representava, o diretor de dublagem Manolo Rey logo buscou selecionar a dedo dubladores negros para compor e dar voz a produção. O filme foi dublado no estúdio Delart, no Rio de Janeiro.

Para dar voz a protagonista interpretada por Viola Davis, foi escalada a dubladora Sarito Rodrigues, que anteriormente havia dublado a atriz no filme “Intrigas de Estado”, e agora retorna. Sarito inclusive foi convidada pela Sony Pictures para promover o filme. Além de Sarito, outros dubladores negros também integram o elenco, como Pamella Rodrigues (conhecida por dar voz a Princesa Jujuba, em Hora de Aventura), Teline Carvalho (voz da Batwoman), Renan Freitas (Fez o Jon Snow nas primeiras temporadas de Game of Thrones), Carol Crespo (voz da Shuri em Pantera Negra e da Gossip Girl, na série de mesmo nome), Thiago Fagundes (O Bolinha, de Luluzinha), Marco Ribeiro (voz do Homem de Ferro), Izabel Lira (voz das atrizes Lucero e Silvia Navarro no Brasil), Carlos Gesteira (voz de Anthony Hopkins em algumas produções), além de nomes como Cassio Alves, Rita Ávila, Pablo Barros, Lacarv, Carina Eiras, Victor Brum e Laura Hávilla. 

A atriz Viola Davis ao lado da dubladora Sarito Rodrigues, que empresta a sua voz na versão brasileira do filme.

Sobre o trabalho, Cassio Alves destacou que se arrepia só de pensar que o elenco é majoritariamente negro: “O filme ficou muito bem dublado, então não tem mais essa desculpa de que não tem profissional negro suficiente pra dublar um filme. Olha a diferença que tem de representatividade e importância tanto pra dublagem quanto pra quem assiste em saber que os dubladores também são negros, um dublador negro tem uma história com o filme, o filme além de ser feito pra ele, é feito por ele. É literalmente um local de fala.”

Perguntado, Cassio também destacou como se sentiu ao ver o filme e qual parte o atingiu mais como ator, negro e ser humano: “No filme, as 3 partes se conversaram bastante juntas, n dá pra separar. Como artista e cineasta, esse filme é fantástico, é bom, interpretações surreais e uma história importante e baseada em fatos. Emendando nisso, o filme trás a perspectiva do negro que reagiu, lutou e mostrou pra outros negros que os brancos que nos colocaram na posição de escravizados. O público deve mostrar pro mercado de cinema que são esses filmes com essas qualidades que nós queremos ver, filmes para pretos feito por pretos. E que isso além de ter qualidade é bom mercadologicamente.”

Lugar de Fala

É a primeira vez que uma mobilização por representatividade negra ocorre no campo da dublagem. Nos últimos anos, alguns estúdios de dublagem na cidade de São Paulo iniciaram um movimento pela visibilidade LGBT: Em produções nas quais haviam personagens que correspondiam a sigla, eles eram dublados por artistas que se identificavam com a orientação sexual do personagem. Da mesma maneira com personagens não-binários e transgênero. Uma das pioneiras nessa iniciativa foi a diretora de dublagem Flora Paulita, que realizava as escalações viabilizando a representatividade. 

A dubladora e diretora de dublagem Flora Paulita, pioneira nas escalações representativas. (Reprodução/Instagram)

Sinopse: A Mulher Rei

A Mulher Rei acompanha Nanisca (Viola Davis) que foi uma comandante do exército do Reino de Daomé, um dos locais mais poderosos da África nos séculos XVII e XIX. Durante o período, o grupo militar era composto apenas por mulheres que, juntas, combateram os colonizadores franceses, tribos rivais e todos aqueles que tentaram escravizar seu povo e destruir suas terras. Conhecidas como Agojie, o grupo foi criado por conta de sua população masculina enfrentar altas baixas na violência e guerra cada vez mais frequentes com os estados vizinhos da África Ocidental, o que levou Dahomey a ser forçado a dar anualmente escravos do sexo masculino, particularmente ao Império Oyo, que usou isso para troca de mercadorias como parte do crescente fenômeno do comércio de escravos na África Ocidental durante a Era dos Descobrimentos, o que fez com que mulheres fossem alistadas para o combate.

A atriz Viola Davis é entrevistada por Maju Coutinho no Fantástico. a entrevista ocorreu na semana passada, quando Viola veio ao Brasil divulgar o filme. (Reprodução/G1)

Dublagem

Uma maneira de traduzir para o povo brasileiro o que é dito pelo mundo inteiro. Dublagem é acessibilidade e a possibilidade de todos poderem se entreter com filmes e séries, e também pensar, a partir de documentários. Sem a dublagem, crianças ainda em processo de alfabetização não poderiam ler as legendas, assim como idosos que já não tem mais a dinâmica de ler com rapidez o que aparece na tela. Sendo assim, a dublagem assume o papel de unir todos os públicos, não à toa foi decretada pelo presidente Jânio Quadros em 1962, onde ele impunha que todos os conteúdos audiovisuais estrangeiros deveriam ser exibidos completamente dublados.

A dublagem marcou o espaço-tempo, vários são os filmes e séries que se fixaram na memória do público pela boa dublagem, como também as novelas mexicanas, que ganharam espaço no coração do povo brasileiro. Outro fator crucial para a dublagem ganhar o coração do público, era a adaptação dos termos, algo feito exaustivamente até os anos 2000, onde termos estrangeiros eram adaptados para termos brasileiros, a exemplo de Chaves, que transformou Acapulco no Guarujá, As Branquelas citando Hebe e o Boyle de Brooklyn Nine-nine citando que chorou no último capítulo da novela O Clone.

Para se tornar dublador, é necessário ser ator. Tendo o registro em mãos, deve buscar um curso de dublagem e iniciar o aprendizado. Após muito treino e aprimoramento das técnicas, pode começar fazendo pontas nas produções, e assim ir crescendo e ganhando confiança até ser escalado para papéis mais relevantes, para os quais é necessário experiência. Uma boa dublagem é aquela que alguém assiste e não percebe que está dublado, por ser natural. 

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