O que define um fenômeno? Segundo o Priberam, um dos significados é “tudo o que na natureza é momentâneo e sucede poucas vezes”. Acho que assim pode se definir Hebe Camargo, a rainha da televisão brasileira.
Hebe nasceu em 1929 e foi uma figura intensa do entretenimento brasileiro. Ao mesmo tempo que dava valor a carreira, deixou de cantar o hino da televisão – sim, isso existe – por conta de um grande amor. Foi um dos maiores nomes do entretenimento brasileiro mas, quando um marido quis que ela não trabalhasse, ela decidiu se afastar da televisão. Hebe era contradição e emoção.
Em “Hebe – um brinde à vida”, disponível no Globoplay, a apresentadora é exaltada por amigos por suas diversas características. Hebe foi pioneira. Apresentou o primeiro programa feminino da televisão brasileira, em 1955 – tendo desbravado o mercado para todas as outras que vieram depois.
Apesar de ser uma figura ousada, era subestimada – por si mesma. Ao ser convidada para ser entrevistada no “Roda Viva”, programa tradicional que entrevista intelectuais, Hebe ficou com medo. Se cobrava demais por não ter escolaridade e estar no meio de tantos estudiosos – mas percebeu que que a sua maior escola era a vida.
A vida humilde em Taubaté, cidade no interior de São Paulo, e tudo aquilo que passou ao longo da vida lhe ensinou e a transformou em síntese do que seria o povo brasileiro. O que Hebe falava chamava atenção da elite e movimentava o povo. Um exemplo? O movimento “caras pintadas”, um dos principais para causar o impeachment do então Presidente Fernando Collor, que ela apoiou, teve espaço em seu programa (com ela pintando seu rosto) e mobilizou parte da população que não estava ligada nisso.
Hebe nos deixou, mas não sem ser aclamada antes. Desde os mais de 20 troféus que recebeu ao longo da sua carreira, como o “Troféu Mário Lago” – que premiava apenas cantores e atores da TV Globo, decidiu premiar uma apresentadora do SBT em 2010. A artista que se julgava sem escolaridade se tornou “Professor Honoris Causa” pela Universidade FIAM-FAAM, em 2009. A cantora, que foi engolida pela apresentadora, ganhou sua homenagem no Grammy Latino em 2010.
Nossa sorte foi Hebe ter passado na nossa vida num período que seu legado pode ser guardado. Em 2009, ela homenageou Roberto Carlos, seu maior ídolo, num especial numa interpretação marcante de “Você Não Sabe”. Vale a pena ver: