Um carioca de verdade precisava digerir o que aconteceu nas últimas 48 horas no jornalismo local. Como cria do subúrbio do Rio de Janeiro, este homem que aqui escreve sofreu com a partida de Susana Naspolini.
Susana nasceu em Santa Catarina e veio ao Rio de Janeiro após se apaixonar e casar com o narrador Maurício Torres. Juntos tiveram a Júlia, sua única filha. Até então, já tinha passado pelo seu primeiro câncer dos outros quatro que teria ao longo da vida.
A jornalista já apresentou telejornais, mas gostava mesmo de ir na rua, entrevistar pessoas e resolver problemas. Foi assim que começou no “RJ Móvel”, quadro do jornal local da TV Globo em que eram chamados governantes para resolver problemas. No inicio, Susana era formal na sua cobrança – mas tudo mudou.
Ao pedir carta branca a editora-chefe do jornal para poder fazer o que pensou (e ser autorizada), ela revolucionou o jornalismo local. Ela fez o carioca ser protagonista nos seus problemas e enfrentá-los com bom humor – apesar de tratar os governantes, que ali ficavam presentes, como culpados e exigindo uma resposta.
Susana já chegou nos locais de van, moto, velocípede, caiaque e patinete. Já sambou, jogou futebol, correu e fez outras peripécias para mostrar que, apesar dos problemas, nós tínhamos que levar no bom humor.
E não foi da boca pra fora, foi assim que ela levou o tratamento dos cinco tumores que teve ao longo da vida. O último, fez questão de que seus seguidores e amigos acompanhassem nas redes sociais todos os passos. Infelizmente, o final não foi o retorno dela andando de velocípede denunciando uma rua esburacada.
Apesar desse sucesso e amor que recebia de todos, era um tanto insegura. Eu tenho uma tia que já trabalhou na TV Globo e almoçava, às vezes, com a Susana. Sempre bastante simpática, ficava apreensiva sobre as pautas que apresentava.
Susana foi amada por todos. Amigos, jornalistas, cariocas e governantes – tanto que a jornalista dará nome à uma creche em Caxias e uma praça em Nova Iguaçu, esta última em que ajudou a cobrar na televisão a sua construção durante anos.
Que a vida dê forças a Júlia, sua filha, assim como deu a sua mãe. Aos 16 anos, Julia não tem mais os pais por aqui – mas tem um legado. A lição que Susana deu aos cariocas foi que, apesar de todos os problemas estruturais que nosso estado possui, temos que levar tudo com leveza, felicidade e responsabilidade.
Abaixo, tem um dos momentos em que Susana fazia o carioca enxergar seus problemas mesmo com bom humor.