Todo Dia A Mesma Noite: Difícil de ver, jamais se esquecer

Em 27 de janeiro de 2013, a história de jovens e adultos em um município universitário se encontrariam ao saírem de casa, pela última vez, em direção a Boate Kiss, localizada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A noite a qual se esperava ser apenas mais um momento de animação qualquer, se tornou a maior tragédia do Brasil envolvendo uma casa noturna. 242 pessoas perderam sua vida, enquanto mais de 600 pessoas saíram feridas após o vocalista da banda, que se apresentava naquela noite, ter acendido um sinalizador dentro do local fechado que se tornou um incêndio de grandes proporções. O comovente fato se tornou um livro intitulado "Todo Dia A Mesma Noite", de autoria da jornalista Daniela Arbex, com depoimentos da família e autoridades.
Foto: Divulgação/Netflix

Em 27 de janeiro de 2013, a história de jovens e adultos em um município universitário se encontraria, pela última vez, dentro da Boate Kiss, localizada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A noite a qual se esperava ser apenas mais um momento de animação qualquer, se tornou a maior tragédia do Brasil envolvendo uma casa noturna. 242 pessoas perderam sua vida, enquanto mais de 600 pessoas saíram feridas após o vocalista da banda, que se apresentava naquela noite, ter acendido um sinalizador dentro do local fechado que se tornou um incêndio de grandes proporções. O comovente fato se tornou um livro intitulado “Todo Dia A Mesma Noite”, de autoria da jornalista Daniela Arbex, com depoimentos da família e autoridades.

Inspirado no mesmo livro, a Netflix lançou em 9 de janeiro o seu drama, de mesmo nome, a qual narra em um riqueza detalhes a história das vítimas, a busca por justiça e a impunidade do crime divididos em 5 episódios. Vale ressaltar que a produção passa longe de uma série documental e por isso se utiliza de sua licença poética para criar seu enredo, sem enrolação.

Foto: Divulgação/Netflix

A série se inicia com uma faísca de fogo sinalizador em sua primeira cena. Rapidamente é possível imaginar que começaremos pelo ápice da tormenta, quando na verdade, percebemos que se trata de uma vela decorativa de aniversário. A alusão ao principio do incêndio, provocado pelo vocalista da banda, cria um desconforto que é substituído pela curiosidade de descobrir quem são aqueles personagens em volta da mesa. O roteiro nos obriga a acompanhar quem são os os fatos envolvidos que fundaram no encontro dos jovens naquela noite.

O que chama atenção nos primeiros momentos e perpetua durante toda a série é o sotaque artificial de alguns dos personagens. As sequentes repetições de gírias nas falas soam acima do necessário, quase encostando no extremo. Contudo, não há diferenciação, por exemplo, nos sotaques de personagens de Porto Alegre e Santa Maria, o que afasta o telespectador de criar um conexão entre os fatos e a realidade.

Logo, a atenção do espectador se vira há um ponto extremamente considerável. A qualidade das imagens e reprodução dos cenários reais. E aqui vale pontuar uma técnica admirável do cinema utilizado pela direção de imagens: o Foreshadowing. Nas primeiras cenas, a câmera utiliza o foco para enquadrar unicamente a personagem Marienne Leal (Manu Morelli) colocando um lindo sapato colorido de cano alto. A imagem, que até pode passar despercebido por alguns, é relembrada nos episódios posteriores quando o pai da garota precisa reconhecer o corpo da filha no pós-tragédia. Novamente, o sapato entra em cena e sendo reconhecido não só pelo familiar, quanto também pelo espectador em um ginásio dispostos dos corpos das vítimas da Boate kiss.

Os atores Paulo Gorgulho e Raquel Karro na série “Todo Dia A Mesma Noite” – Foto: Divulgação/Netflix

A minissérie é repleta de imagens que pegam o espectador pela tensão. Um exemplo disso é quando os personagens vividos por Paulo Gorgulho e Raquel Karro buscam pelo carro do filho, que até então, não se tinha informações se ele estava ou não dentro da boate. O jovem, que deveria ter buscado o irmão por às 2h30 da manhã em um compromisso com amigos longe da boate, desaparece. O fato também está presente no livro e se tornou uma das cenas mais virais da produção.

Embora as excelentes imagens, o texto da produção não adentra os porquês da causa do acidente e concentra-se no superficial a qual já conhecemos. No entanto, há os monólogos dos atores Thelmo Fernandes e Paulo Gorgulho conseguem sustentar a trama no emocional e já vale por sí só tudo o que assistimos.

Enquanto as obras internacionais são aplaudidas pelo público, Todo Dia A Mesma Noite chega com uma certa dificuldade crítica por parte do telespectador, característico de qualquer produção brasileira. Apedrejada como uma obra de “romantização de um sofrimento”, o longa entrega muito mais que um drama. Contudo, a produção é uma oportunidade de recolocar no foco um fato impune que beira a prescrição de um crime.

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