Roteiristas do “Vai Que Cola” enviam carta à Globo em apoio a roteirista demitido

Imagem: Divulgação

Nas últimas semanas, uma polêmica começou a circular pelos bastidores de “Vai Que Cola“. Um roteirista, André Gabeh, foi demitido do programa após solicitação de parte do elenco.

Por conta disso e de outros motivos, os roteiristas de “Vai Que Cola” enviaram uma carta para a TV Globo. Nela, eles se solidarizam com André e afirmam que ele havia sido perseguido desde o ano passado no programa.

“André Gabeh é também um escritor preto, gay e periférico (…) Perdemos um roteirista brilhante, um dos poucos suburbanos escrevendo para personagens suburbanos”, afirma parte da carta.

Além disso, os roteiristas apontam que parte do elenco, não citada nominalmente, não decoram as falas previamente. Além disso, essa parte também não lê todo o roteiro, apenas suas falas, dificultando assim o entendimento do episódio.

“Amamos escrever para o ‘Vai que Cola’, mas prezamos muito pela nossa saúde mental e abrir mão dela é inegociável”, afirma outro trecho da carta. A TV Globo e o Multishow, responsáveis pelo seriado, não se posicionaram sobre o assunto. Confira a carta na íntegra:

“Nós, roteiristas do programa ‘Vai Que Cola” – Temporada 11’, escrevemos esta carta para nos solidarizarmos com o roteirista André Gabeh, demitido arbitrariamente a pedido de parte do elenco da série. Queremos deixar claro que somos uma equipe que tem amor pelo “Vai que Cola” e por cada profissional que faz essa série acontecer, por isso, esta é uma carta com afeto, sem intenção de gerar conflito.

André Gabeh é um artista sério, competente, comprometido e que vinha sendo muito elogiado tecnicamente por toda a equipe, produtora Fábrica, Multishow e Globo, ao longo da temporada. São mais de 50 profissionais que acompanham o processo de criação e leitura dos textos. Os roteiros de André Gabeh sempre foram muito elogiados e aprovados com mérito, além de muitas vezes servirem como referência para nós.

André Gabeh é também um escritor preto, gay e periférico, o que é importante ressaltar dentro de um contexto em que “a corda sempre arrebenta do lado mais frágil”.Perdemos um roteirista brilhante, um dos poucos suburbanos escrevendo para personagens suburbanos.

A implicância ou perseguição, por parte do elenco, com o autor não é de hoje. Desde o ano passado, André Gabeh vem sendo melindrado e diminuído. E mesmo assim, seguia exercendo seu trabalho com empenho e competência. Recebemos com consternação a notícia de que ele havia sido demitido faltando menos de um mês para encerrarmos a sala de roteiro. Nosso trabalho é feito em equipe e uma perda dessas, além de injusta, pois o mesmo nunca deixou de cumprir prazos e realizar seu trabalho com excelência, abala a todos. Somos profissionais, mas antes de tudo, seres humanos.

Como artistas, respeitamos todos os talentos que fazem do “Vai que Cola” o maior programa de humor do país. Infelizmente o respeito não é recíproco. A maioria dos roteiristas deste programa trabalha há anos no mercado, e já fez parte deste e de outros projetos muito bem-sucedidos e premiados. Temos certeza de que entregamos roteiros com qualidade, mesmo levando em conta as difíceis exigências impostas para a feitura das sinopses, escaletas e roteiros, tais como: prazos apertados, ausência de personagens importantes, indisponibilidade do elenco para gravação etc.

Atualmente a atmosfera de trabalho é de apreensão e medo, pois os roteiros recebem diversas críticas infundadas e abstratas. Críticas estas que dizem respeito, na maior parte dos casos, aos gostos pessoais e não à técnica e podem ter consequências desastrosas como a recente demissão do roteirista André Gabeh.

Gostaríamos de deixar bem claro que não somos contra as críticas construtivas que são sempre acatadas, sem discussão, quando é o caso do enriquecimento e melhoria do resultado final do roteiro. Acreditamos também que é muito saudável ter uma troca com os atores, desde que essa troca seja respeitosa de ambos os lados. Sempre estivemos abertos a fazer adaptações de maneira que cada ator ou atriz brilhe em cena e fique feliz com seu personagem. Contudo, o que vem acontecendo é uma violência psicológica.

A falta de respeito com o programa e com os roteiristas pode ser exemplificada com o fato de que parte do elenco não lê o texto antecipadamente, e não lê o roteiro em sua integridade (apenas as falas de seus próprios personagens), o que naturalmente dificulta o entendimento geral da trama de cada episódio. Pensamos que escrever um programa de comédia deve ser prazeroso, afinal, estamos levando alegria para milhões de brasileiros. Em sua maioria, trabalhadores (como André Gabeh) que fazem este país girar, que precisam rir e se distrair de suas duras realidades.

Amamos escrever para o “Vai que Cola”, mas prezamos muito pela nossa saúde mental e abrir mão dela é inegociável.

Esperamos mudanças para que o “Vai que Cola” se torne um lugar saudável e acolhedor não apenas para nós, mas para todos os roteiristas que virão depois e para todos os profissionais envolvidos nessa engrenagem. Não queremos de forma alguma que este momento seja interpretado como uma “guerra de bastidores entre elenco e roteiristas”, mas sim como um pedido de paz e respeito.

Gostaríamos também de ressaltar que existem pessoas no elenco que nada têm a ver com isso, cumprindo suas funções com brilhantismo, profissionalismo e cordialidade.

Aguardamos retorno com uma proposta de ação concreta.

Atenciosamente,

Equipe Roteiro “Vai que Cola” – 2023.”

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