Marujos Pataxó, projeto de samba indígena, lança álbum com página esquecida da música brasileira

Marujos Pataxó
Marujos Pataxó

Preenchendo uma lacuna na história da MPB, o grupo Marujos Pataxó lança um álbum que compila um repertório de samba indígena. Este é o primeiro registro realizado pelos próprios criadores, celebrando seus encantados e destacando uma parte da música brasileira até então não documentada. As tradições percussivas e rítmicas do samba indígena, fundamentais na formação do gênero no sul da Bahia, permanecem preservadas na Aldeia Mãe Barra Velha, no território Pataxó. Nesse local, o samba é mais do que uma expressão musical; é um ritual sagrado no qual os indígenas manifestam sua fé e cultura com autenticidade, transmitindo de geração em geração por meio de músicas que retratam a natureza e a vida no campo. Esse lançamento histórico é apresentado pelos selos ybmusic e Sala da Toscaria.

O álbum conta com a produção musical de Lenis Rino, conhecido por trabalhos com artistas como Fernanda Takai, Matheus Aleluia, Tatá Aeroplano e Palavra Cantada. A direção técnica fica a cargo de Tejo Damasceno, cujo currículo inclui colaborações com BNegão e os Seletores de Frequência, Sabotage e Instituto. A masterização é realizada por Fernando Sanches, renomado por seu trabalho com Criolo e Baianasystem. Com o apoio do Natura Musical, o projeto também incluirá um documentário que narra a história do grupo, do gênero musical e da comunidade Pataxó. Além disso, está previsto o lançamento de um videoclipe e um remix assinado pelo Tropkillaz.

A contribuição dos povos originários para a construção da identidade brasileira frequentemente passa despercebida. Esta invisibilidade se manifesta na esfera pública, na língua, nos costumes, na culinária, na medicina, na arte e na música. O propósito deste projeto é destacar e reconhecer a influência indígena na origem do samba brasileiro. Além de promover e disseminar essa expressão musical única, a iniciativa busca melhorar a qualidade de vida na Aldeia, utilizando a arte como meio para criar empregos, gerar renda e preservar a rica cultura tradicional Pataxó. A marujada indígena agora se apresenta para todo o país, compartilhando memórias, lutas e a cultura de seus ancestrais de maneira sustentável e global, ao valorizar profundamente suas raízes na Aldeia Mãe Barra Velha.

O território, que abriga o Parque Nacional do Monte Pascoal e está localizado nas proximidades do ponto inicial da invasão em 1500, foi o primeiro aldeamento do Brasil e mantém uma história de resistência que já completa 523 anos. Após o trágico massacre em 1951, ocorreu uma dispersão do povo Pataxó por várias partes do país, mas muitos ainda consideram aquela aldeia e região como elementos fundamentais de suas raízes.

Um testemunho de resiliência e determinação, a cultura do povo Pataxó perdura, resistindo a massacres, dores e mais de quinhentos anos de invasões. O preconceito, muitas vezes sutil e imperceptível, funciona como uma forma constante de repressão, afetando muitos, mas sendo discutido por poucos. A repressão ativa e violenta se manifesta através da queima de residências, invasões territoriais e até mesmo assassinatos de indígenas. Permanecer nas terras, apesar das décadas de repressão cultural, representa um ato de resistência em honra às gerações passadas e futuras. É por isso que o resgate cultural, realizado pela valorização da identidade indígena, assume uma importância tão significativa.

Marujos Pataxó foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura da Bahia (FazCultura), ao lado de Casa do Hip-Hop Bahia, Cronista do Morro, Festival Pagode Por Elas, Os Tincoãs e Ventura Profana. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos de música até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Margareth Menezes, Luedji Luna, Mateus Aleluia, Mahal Pita e Casa do Hip Hop da Bahia.

Crédito: Elisa Braga

Ouça “Marujos Pataxó” AQUI.

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