Após quase 30 anos na banda Baiana OQuadro o cantor Nego Freeza lança seu primeiro álbum solo.

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Na próxima sexta-feira (27) o cantor Nego Freeza lançará em todas as plataformas digitais o seu primeiro álbum solo de estúdio. Intitulado ‘’Icyerekezo”, nome dado ao satélite lançado em Ruanda, na África, que em Quiniaruanda – língua falada em Ruanda – significa ”Visão”, com o objetivo maior de conectar escolas rurais à internet. O álbum retrata a realidade do continente africano de uma maneira leve, com um olhar para quem deseja entender o passado e ao mesmo tempo sonhar com um futuro, onde a cultura africana não só resiste, mas também lidera com a beleza e com a força, onde é celebrada e respeitada.

Com “Icyerenkezo”, Nego Freeza apresenta um disco que desde já apresenta

caminhos para pensar a negritude brasileira dentro de uma ótica afro diaspórica,

que toma o pensamento, as formas e figuras do continente como local de partida.

Desta forma, faz todo o sentido que o título do disco que em português significa

“visão”, tenha um satélite como signo.

Neste “satélite” lançado no universo por Nego Freeza, Icyerenkezo, tem como

material constitutivo os seus mais de 20 anos de carreira como músico, pesquisador, DJ e MC. Fazendo o trabalho de captar e retransmitir sonoridades

através de um flow e ideias esculpidas por sonoridades do Rap, do reggae, dos

afrobeats, mas também da música popular e do rock’n roll.

As 8 faixas presentes no disco, possuem uma estrutura como nos antigos LP’s de

vinil, onde temos um lado A e um lado B. O trabalho artístico apresentado por Nego

Freeza e as produções de Pupillo casam muito perfeitamente e nos trazem dois

blocos distintos e complementares de afetos. 

Algo que poderíamos resumir como a circularidade da música africana na diáspora, em formas e expressões. Onde a primeira metade passeia pela diversão autoafirmativa de uma negritude. E se complementa pelo diagnóstico das opressões, através de uma lírica resistente e

intrincada.

Entre o presente vivo e pulsante e uma concepção de tempo circular, a

presentificação de uma distopia afrofuturista, rompe com a dicotomia entre

entretenimento e arte. Em “Icyerenkezo”, Nego Freeza assume e trabalha junto às

influências do funk carioca, de John Coltrane, e passeia nos universos de referência

de Jorge Ben e Sun Ra. Indo além das citações, e incorporando ao material poético

e sonoro essas influências sem perder a sua singularidade.

Para além de fórmulas marketeiras, esta estreia solo é a expansão de um universo

de vida e arte que Nego Freeza nunca entendeu como separadas. Vivendo desde o

fim dos anos 90 no underground da música brasileira, mas com experiências em

festivais históricos. O disco solo traz a luz de modo completo, um MC que conjuga o

mais “baixo” das vivências da rua com o mais “alto” alcançado através do

pensamento da negritude. Pois, como um homem preto de Axé, não separa o

concreto do abstrato e sabe que as formas de pensamento europeu não lhe cabem.

Prova disso é o single já lançado, “A Gente Pulsa”, que recebeu um simples e bonito

“visualizer” conjugando batidas, rimas e dança, como o Hip-Hop surgiu. Carta de

intenções e coração do disco, a música apresentou ao público uma sonoridade

vibrante, dançante e um lírica e flow que apresenta o pensamento que governa, a

construção na história e as geografias da música preta.

A arte visual de “Icyerenkezo” ficou a cargo da premiada artista Aline Bispo que

trabalhou dentro do seu estilo construindo uma capa de disco que impacta o ouvinte

pela construção semiótica. De fundo vermelho, a simplicidade da imagem de punho

negro segurando uma “espada de ogum” – Orixá do qual Nego Freeza é filho no

candomblé – faz a conexão das lutas da diaspóra a espiritualidade africana.

No campo das participações do disco, Nego Freeza e Pupillo contaram com os

músicos Carlos Trilha que tocou os synths em “A Gente Pulsa” e do saxofonista

Oswaldo Lessa (Marisa Monte, Larissa Luz, Afrojazz), que abrilhantou a faixa

“Espaço Versos Universo”. Na parceria das rimas, Freeza convocou um dos maiores

MC’s e cantores da história do Rap nacional: Matéria Prima (Quinto Andar,

Subsolo), para a faixa “Meu Lar”.

A riqueza presente em “Icyerenkezo” conta com um time de ponta e chega às

plataformas digitais através da gravadora Cachoeira Music. A gravadora possibilitou

que um dos grandes nomes do Rap nacional lançasse um dos discos mais plurais

da história recente do gênero no país. Pluralidade que se expressa em ritmo e

poesia com forte embasamento sonoro – através da mistura de gêneros – e

liricamente com um escopo firme e muito consciente sobre o anticolonialismo.

Um disco que em sua presença no cenário atual traz toda a força da resistência do

passado diante dessa sinfonia do caos onde vivemos, nos alegrando e colocando

para pensar sobre universos muitas vezes muito próximos de nós. Nego Freeza como um verdadeiro Mestre de Cerimônias, abençoado por Ogum, e apoiado pelas criações de Pupillo nos leva a perceber as diversas tecnologias ancestrais que são nossa herança enquanto povo preto. Ogunhê!

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