O filme estreia nos cinemas dia 17 de abril de 2025.
Drama, blues e suas camadas
A narrativa gira em torno de Sammie, um jovem guitarrista e cantor de blues, filho de um pastor rigoroso. Interpretado com carisma e intensidade pelo cantor de R&B Miles Caton, em sua estreia como ator, Sammie é primo dos gêmeos Smoke e Stack — personagens intensamente vividos por Michael B. Jordan, que brilha ao dar nuances distintas a cada irmão. Stack, o impulsivo e sedutor; Smoke, o pragmático e contido.
Após uma juventude marcada pela violência das gangues de Chicago, os irmãos retornam ao Mississippi dos anos 1920 — um dos estados mais racistas da época — carregando consigo uma fortuna e um sonho: abrir uma casa de shows onde a comunidade negra pudesse se expressar livremente, longe do preconceito e da repressão.
O elenco feminino também contribui para a riqueza emocional do filme. Hailee Steinfeld, como Mary, interpreta uma mulher dividida entre desejo e invisibilidade, enquanto Wunmi Mosaku, como Annie, oferece uma presença melancólica e afetuosa, personificando o amor não resolvido e os laços que perduram mesmo quando tudo parece ruir.
A introdução do filme estabelece um pano de fundo místico ao explorar com respeito e beleza as religiões de matriz africana, heranças espirituais dos descendentes de escravizados que pontuam toda a narrativa. Coogler conduz essa imersão com reverência, sem exotismo, adicionando profundidade ao universo onde sua história se desenrola.
O longa entrega o “inesperado”
Apesar de seu marketing sugerir um filme de terror vampiresco, Pecadores vai além. O sobrenatural está presente, sim, mas como metáfora — os vampiros aqui são menos sobre presas e sangue, e mais sobre culpa, pecado e a complexidade humana. É uma leitura simbólica da opressão, da dor herdada e das escolhas que condenam e redimem.
A espinha dorsal do roteiro é a música. O blues, nesse universo, é mais que trilha sonora: é resistência, é ancestralidade. É a maneira como esses personagens enfrentam seus próprios fantasmas e se reconectam com os sonhos de seus antepassados. A direção trata cada canção como um rito — não apenas de passagem, mas de sobrevivência.
É verdade que em alguns momentos o elemento vampiresco parece destoar da construção sólida do drama social, mas Coogler consegue, com habilidade, amarrar os fios soltos e revelar que o sobrenatural não está deslocado — ele está enraizado no próprio simbolismo do filme. O horror não vem das presas, mas das cicatrizes da história americana.
Visualmente, Pecadores é arrebatador. A direção de arte é única, e a fotografia molda a tensão como uma nota grave que antecede o solo da guitarra. Cada cena é pensada para provocar — não apenas sustos, mas reflexão.
Conclusão
Pecadores é um filme que vibra — com sangue, com música, com memória. É um thriller desses que não se vê há tempos, capaz de entrelaçar crítica social, drama histórico e fantasia com uma alma própria. Então, como os grandes clássicos do blues, sua força está tanto no que diz quanto no que faz sentir. Um filme que canta, mas também morde — e, acima de tudo, nos faz escutar.
O filme estreia nos cinemas dia 17 de abril de 2025.
Visão geral

Pecadores (Sinners)
Ano: 2025
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 137 min min
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Jack O’Connell , Hailee Steinfeld , Delroy Lindo , Michael B. Jordan.