Nos anos 80, é possível se contar as mulheres comediantes que esse país possuía. As mulheres que integravam o humorismo brasileiro ou precisavam ficar seminuas e soar ignorantes ou serem muito boas. Cláudia fez parte do segundo nicho.
A comédia, para quem exerce, tem haver com liberdade. Você precisa ser livre para dizer o absurdo que você pensa para fazer o outro rir, usando da sua inteligência para gerar a tal “quebra de expectativa”. Cláudia era assim. Bissexual assumida, mesmo nunca tendo falado sobre o assunto, sempre foi livre para amar e ser feliz – na vida pessoal e profissional.
Na televisão, sua carreira começou no final da década de 70 e, a partir de então, participou dos programas mais antológicos de comédia da televisão brasileira na TV Globo: Chico Anysio Show, Os Trapalhões, Viva o Gordo e Escolinha do Professor Raimundo. Numa cronologia cômica, talvez Cláudia tenha sido uma das primeiras mulheres no Brasil a explorar a sensualidade feminina no humor sem estar seminua ou que a piada seja a mulher.
Cacilda, personagem feito por ela na Escolinha do Professor Raimundo, era amada por ser uma namoradeira e pelas suas histórias. Cláudia teve o poder de fazer um humor popular sem ter medo do estereótipo – e conseguiu a certeza na eternidade de uma geração.
Em “Sai de Baixo”, saiu por não gostar do roteiro, que considerava de baixo nível – a quem ela atribuía os motivos da oscilação de audiência. Também se é comentado, mas na boca miúda, que as piadas sobre seu peso a incomodavam. E, mesmo tendo saído no fim da primeira temporada, a Edileuza, seu personagem, é sempre lembrado. Uma mulher forte que sabe o poder da comédia e do seu trabalho.
Claudia é eterna, sem dúvidas. O seu legado vai seguir, principalmente na cabeça de jovens comediantes. Cláudia foi uma das primeiras que não seguia um determinado padrão de beleza – imposto pela sociedade e extremamente forte nos anos 80/90. E, por isso, fez com que mulheres quisessem fazer humor. Comediantes e atrizes como Babu Carreira, Tatá Werneck, Maria Clara Gueiros, Marisa Orth e Fafy Siqueira foram algumas das muitas que prestaram homenagens e explicitaram como ela era incrível. A nossa sorte é que o legado eterniza aquele que se foi para aquele que fica.