Se existe um talento inquestionável em Justin Bieber, é o de transformar qualquer movimento em espetáculo. Então, quando ele lança um álbum surpresa depois de quatro anos de hiato, era de se esperar que o mundo parasse. E parou. Foram mais de 74 milhões de reproduções nas primeiras horas de seu lançamento. Mas, nem todo esse alvoroço é suficiente para sustentar as 21 faixas de Swag, um disco que começa como uma reinvenção ousada… e termina como um feriado no domingo: começa te empolgando, mas logo você percebe que não serve pra muita coisa.
O começo promissor de um experimento (quase) interessante
É justo dizer que Swag começa bem. “All I Can Take”, em meio a referencias claras de Michael Jackson com suas teclas brilhantes e um R&B de leve inspiração noventista, parece indicar que estamos diante de um Bieber renovado, talvez um pouco mais maduro, talvez um pouco mais introspectivo, talvez só de ressaca mesmo. “Daisies” e “Go Baby” seguem a mesma linha: produção redonda, vozes bem colocadas e um verniz pop que brilha o suficiente para manter o ouvinte interessado. É como se Bieber estivesse finalmente abraçando sua fase madura, a qual tanto desejou justificar até agora.
Mas essa lua de mel dura cerca de meia hora. O tom e até as metáforas que virão em cada música seguinte se tornam previsíveis. A grande surpresa de Swag é perceber o quanto ele consegue soar igual, mesmo com tanta variedade sonora e tantos convidados de estilos diversos.
Quando a terapia vira estética e o lo-fi vira desculpa
A tentativa de soar profundo aparece nas famigeradas “sessões de terapia” com o comediante Druski, interlúdios que deveriam humanizar Bieber mas soam como aqueles momentos em que a gente tenta explicar que está tudo bem… enquanto posta um story com alguma música dançante da Tate McRae que diz ter superado o ex. Em vez de vulnerabilidade, o que aparece é uma vontade de parecer autêntico.
A estética lo-fi, utilizada no álbum, em mãos mais habilidosas pode ser emocionante, como Frank Ocean, outra referência clara do artista. No entanto, aqui soa como demo inacabada. “Zuma House”, por exemplo, poderia ser uma balada crua e sincera, mas parece mais um áudio de WhatsApp gravado durante uma caminhada. Swag tenta ser experimental, mas o resultado é um álbum que não sabe se quer ser playlist de boutique de luxo ou trilha sonora daquele streaming estrangeiro que ninguém consegue pronunciar o nome.
Letras que flutuam entre o nada e lugar nenhum
Há também o dilema lírico. Bieber quer falar sobre paternidade, casamento, saúde mental e espiritualidade, mas, em vez de mergulhar, ele fica boiando com frases de efeito. Em “Go Baby”, por exemplo, ele canta sobre a esposa com a profundidade de um tweet patrocinado: “Essa é minha baby, ela é icônica / capinha de iPhone com gloss”. Já em “Sweet Spot”, a tentativa de sensualidade beira ao constrangimento: “Estas mãos gentis vão te segurar, meu bem / Doce ternura, eu vou te mostrar, minha abelhinha”.
No final, Swag é um álbum que quer ser tudo ao mesmo tempo agora: indie e pop, confessional e performático, caseiro e grandioso. Mas, como um drink exagerado com ingredientes que não se misturam, termina diluído e incoerente.
A produção tenta empurrar o “lol-fi” como proposta estética. O álbum não é exatamente ruim, há momentos bonitos, como “Devotion” e “Walking Away”, mas eles se afogam no mar morno de repetições e interlúdios desnecessários.
Justin Bieber ainda é uma figura importante no pop, mas Swag nos lembra que quantidade não é sinônimo de profundidade. São 21 faixas que, no fim, parecem dizer mais sobre a crise de identidade e relacionamento do artista do que sobre sua real evolução e intimidade. E talvez esse seja o verdadeiro swag de Bieber hoje: transformar sua confusão em conteúdo.
No jornalismo, uma crítica é um gênero opinativo onde um autor analisa, interpreta e avalia obras culturais, como filmes, músicas, peças ou programas, com base em critérios técnicos e subjetivos. A opinião não representa, necessariamente, a posição editorial da UpdateCharts.