Rainha Charlotte: Romance agridoce reforça o melhor de Bridgerton

Foto: Divulgação

Desde o lançamento, o universo de Bridgerton se tornou um fenômeno para a Netflix. Desde bailes luxuosos repletos de músicas pops transformadas em versões instrumentais, a jovens que buscam um casamento, e claro, fofocas da aristocracia inglesa, era difícil a série não conseguir se popularizar. A segunda temporada de Bridgerton se tornou um divisor para quem já conhecia as histórias de Julia Quinn, a qual muitos gostam e muitos desgostam, mas o que quer que tenha dado errado na segunda temporada da série, Rainha Charlotte conseguiu superar com maestria. Além disso, Shonda Rimes conseguiu lembrar a todos quem ela é e como ela é boa em seu trabalho, deixando todos mais esperançosos para que nova temporada de Bridgerton esteja perfeita.

O derivado serve como um prelúdio da série original, mostrando a ascensão de Charlotte a Rainha ao se casar com o Rei Jorge III, assim como entrega uma meia temporada dos eventos do tempo de Bridgerton, onde a Rainha precisa lidar com os 13 filhos — que até então não deram a ela um neto e herdeiro legítimo para o trono.

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Para isso, é claro temos o retorno de alguns rostos já conhecidos: como Golda Rosheuvel e James Fleet como a Rainha e o Rei, além disso, tivemos o retorno de Adjoa Andoh como Lady Agatha Danbury e Ruth Gemmell como Lady Violet Bridgerton. Além deles, o elenco se expande com as versões mais jovens dos personagens: India Amarteifio dá a vida a jovem Charlotte, Corey Mylchreest como Jorge, Arsema Thomas como a jovem Lady Danbury e Connie Jenkins-Greig como Violet. Por fim, Julie Andrews retorna em seu papel sendo a voz de Lady Whistledown.

Série dá aviso sobre fidelidade histórica

É importante ressaltar a utilização dos personagens reais como inspiração. Temos a Rainha Charlotte e o Rei Jorge III, o que acaba levantando algumas dúvidas sobre o que é ficção ou não, mas desde o primeiro momento o derivado deixa claro que a trama se trata da história da Rainha Charlotte de Bridgerton e não é uma aula de história — sendo uma ficção inspirada em alguns fatos, deixando claro que Shonda está deixando de lado a precisão histórica e para contar o romance de Charlotte e Jorge.

Durante a trama podemos ver o racismo muito mais forte comparado com Bridgerton, é notável como a sociedade não quer a entrada de pretas no mundo deles, mas, ao mesmo tempo, com o casamento de Jorge e Charlotte a mae do rei, Princesa Augusta (Michelle Fairley), implementa “O Grande Experimento” que é presentear com títulos os nobres negros, para assim incluir e deixar Charlotte mais à vontade na corte.

Desde o primeiro momento se vê que é um sistema extremamente falho — principalmente por se mencionar essa união com “o lado deles” e o “nosso lado”. A série abordou bem a situação ao dar a jovem Lady Danbury o dever de ser a voz de todas essas pessoas, embora que algumas vezes ela tome decisões questionáveis, são justificáveis se pensar em como é a sociedade em que ela vive e em como eventualmente é necessário tomar decisões difíceis para conseguir o melhor para si e para sua família.

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Passado e presentes unidos por temas sociais

Outro ponto positivo da minissérie é que mesmo que fique entre passado e presente o drama não nos deixa confusos amarrando muito bem as histórias. Vemos uma Rainha já acostumada com a vida que possui e tem sua vida afetada como a doença do Rei — em simultâneo vemos uma versão jovem tendo que decidir sobre como será a sua vida.

A série também aborda muito bem a questão da viuvez e asexualidade de mulheres mais velhas, nos fazendo refletir sobre como devia ser difícil se tornar viúva tão cedo e como isso influencia sua vida e seu corpo, ou como a para algumas, a vida de viúva pode ser solitária. A série também aborda sobre o controle patriarcal, machismo, abuso matrimonial e construção de relacionamento arranjado.

Outra coisa, que a série acaba entregando é um relacionamento homossexual entre os criados mais próximos da realeza. Brimsley (Sam Clemmett) e Reynolds (Freddie Dennis) tem umas cenas bastantes interessantes na banheira. Isso foi um avanço e uma esperança de mais espaço para relacionamentos LGBTQIA+ na franquia. E sinceramente, a cena de Brimsley dançando, tanto com Reynolds, e quando jovens e logo paós a cena de ambos dançando anos depois sozinhos foi um golpe e tanto.

Charme de Bridgerton permanece forte

A minissérie segue os moldes de Bridgerton trazendo para sua trama grandes bailes reais, com figurinos belíssimos acompanhados por cenas de danças bem coreografadas e repleta de músicas pops que ganham versões instrumentais. Dessa vez, para alinhar com a ideia da representatividade, tivemos canções de Beyoncé, Alicia Keys e até mesmo Whitney Houston.

E sim! Para aqueles que gostam de umas cenas quentes, Rainha Charlotte tem muitas cenas íntimas do jovem Jorge e da jovem Charlotte, outros personagens também ganham alguns takes mais quentes, algumas agradáveis, outras nem tanto, mas necessárias para construção dos personagens.

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Por fim, o elenco jovem é um dos pontos altos da série. É incrível o trabalho que realizaram tendo que considerar as personalidades dos personagens mais velhos e o trabalho que é ter que manter a essência dos mesmos, como a Lady Danbury de Thomas, de sua versão mais velha — só que com muito mais camadas e humanidade tendo em vista os desafios que são postos a personagem. Da mesma forma, Amarteifio, que tinha o difícil trabalho de viver uma versão de Golda Rosheuvel e Corey Mylchreest foi outra surpresa. Seu Jorge é tão peculiar que, beirando entre a sanidade e loucura, nos deixa o tempo todo torcendo para que ele fique bem.

Rainha Charlotte foi uma grata surpresa. A minissérie entregou toda a essência dos livros de Julia Quinn, mesmo não tendo um material original, mostrar a história de Charlotte foi certamente um grande acerto para a produção. Se destaca com um encerramento agridoce, fecha de maneira redonda e possivelmente não terá uma segunda temporada, mas se tiver é melhor preparar os lencinhos, porque sabemos que não há um final totalmente feliz para Charlotte e Jorge.

Nota: 4/5

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