Succession: Última temporada entregou tudo que precisávamos

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[CONTÉM SPOILER!] Após três temporadas excelentes, Succession tinha uma missão muito difícil nessa quarta temporada. Afinal, Logan Roy havia novamente vencido e conseguido o que queria, inclusive com a aprovação e a união de seus três filhos — criados de forma abusiva o suficiente para odiar o pai com a mesma intensidade que o amavam e buscavam sua provação.

Ao longo de 10 episódios e com um texto impecável Jesse Armstrong, a série conseguiu nos fazer mergulhar intensamente na dinâmica disfuncional que é a família Roy a partir de algo que parecia improvável de acontecer tão cedo e tão repentinamente: a morte de Logan no episódio 3, algo que era difícil de passar pela cabeça dos espectadores e dos personagens.

A morte de Logan é algo surpreendente, pois a figura do empresário ao longo da série foi se tornando cada vez mais poderosa, imponente e principalmente apegada ao seu legado, mesmo quando já havia sinais inevitáveis de que seu tempo havia passado e que ele estava longe de ser o mesmo homem saudável que construiu um império.

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Por isso, a morte de Logan era necessária para que finalmente pudéssemos ver seus filhos criarem suas próprias histórias, livres do constante pai opressor, mas que ao mesmo tempo querem continuar presos à figura de Logan e ao império que ele construiu. A morte de Logan também serve como um aviso que até mesmo aquele que se considera o maior não está livre do fatídico destino da morte, não importa quanto dinheiro você tenha, quanto você construiu, na hora da morte você é apenas poeira no ciclo da vida.

Entretanto, mesmo que esteja morto a presença de Logan continua o tempo todo na série e não apenas pelas participações de Brian Cox em alguns episódios, mas em seus filhos: Connor (Alan Ruck), Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin), principalmente nos três últimos. Os filhos de Logan carregam em si a triste e amarga marca de uma vida de negligências emocionais, traições e decepções, que não terão como cicatrizar afinal o principal responsável está morto e jamais conseguirão se reconciliar com Logan e principalmente não teriam o que sempre desejaram do pai: sua aprovação e seu reconhecimento. O que faz com que os filhos tenham que lidar com todo esse sentimento de diferentes formas ao longo da temporada.

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Foco na família

Os primeiros episódios focam bastante na construção da aliança Kendall-Shiv-Roman, que decidem construir juntos algo para chamar de “seu”, mas que já demonstram no primeiro momento que não conseguem deixar Logan para trás ao surgir algo que o pai deseja, deixando claro que eles querem ferir o pai. Já Logan ganha destaque ao demonstrar um pouco de fragilidade em relação aos filhos, seja nele esperando uma ligação em seu aniversário ou na conversa que ele teve com seu segurança, mas claro que isso não o impediu de continuar afiado como sempre, como ao dizer aos filhos que eles não eram pessoas sérias, uma frase que segue ecoando na cabeça do público durante toda a temporada ao observar as decisões dos irmãos Roy.

Então, surpreendentemente, o terceiro episódio coloca um misto de sentimentos sobre a morte do patriarca dos Roy, sentimentos que o trio precisa deixar em segundo plano, pois precisam se envolver em uma disputa pelo futuro da empresa que está num processo de compra por Lukas Matsson (Alexander Skarsgard). Armstrong consegue então transmitir com sucesso em seu roteiro os sentimentos dos irmãos Roy, o luto reprimido pelos protagonistas para ter que negociar, ao mesmo tempo, em que algumas rachaduras aparecerem. É fascinante e deixa o telespectador ansioso para o momento de ruptura total.

A série continua o formidável trabalho de mostrar todas as facetas de seus personagens, buscando humanizá-los sem nunca deixar de reconhecer que eles não são pessoas boas, que são cruéis, fracos e desprezíveis. Muito se deve ao trabalho de roteiro e do elenco, afinal não se pode negar que Jeremy Strong segue sendo excelente como Kendall, mas Kieran Culkin e Sarah Snook conseguiram um grande espaço para mostrar a todos como eles também são bons se entregando intensamente aos seus personagens, seja com Roman desabando no funeral do pai e depois se punindo pela sua fraqueza ou Shiv tendo uma briga intensa com o Tom de Matthew Macfadyen, que também segue fazendo um trabalho excelente.

O episódio final de Succession era uma incógnita até os 20 minutos finais. Era difícil prever o que aconteceria. O roteiro de Armstrong e a direção do episódio que é de Mark Mylod é uma conclusão que alguns podem considerar amarga, mas um tanto previsível como Gerri mesmo disse a Roman: o dinheiro sempre vence. A série também responde à pergunta: quem será o sucessor de Logan Roy?

A verdade é que Logan Roy conseguiu o que queria, afinal ele sempre deixou claro que não considerava seus filhos dignos de manter seu império, nunca se preocupou em adquirir um sucessor já que amava o poder e faria qualquer coisa para tê-lo usando os filhos da maneira que pudesse. Mesmo quando decidiu sair de cena, preferiu colocar seu império nas mãos de outro ao permitir que os filhos assumissem. Nada mais justo que nenhum deles conseguir ocupar o cargo e deixar que um parasita puxa-saco como Tom tome o poder mesmo sendo apenas uma marionete de Matsson.

Já a relação que a temporada tentou construir entre os irmãos Roy sempre foi uma montanha-russa de sentimentos, algo extremamente frágil, todos sempre traindo a todos em favor de seus próprios interesses, a série até brinca conosco ao nos dar uma das cenas mais lindas da produção ao exibir uma cena bonita de uma família feliz se tivessem bagagem emocional para isso, mas que logo nos lembra que a série é uma tragédia e não é possível um final feliz.

Final amargo

Um final apropriado e que nos deixa com um amargo na boca, não porque não foi um deles a ficar no poder, mas porque mesmo desprezíveis ainda nos apegamos a esses personagens, mesmo que um pouco torcemos para eles, não houve vitórias neste final e os culpados foram os próprios irmãos incapazes de entrarem em um acordo, já que todos querem a mesma coisa.

Roman talvez tenha sido o que mais teve sorte ao se livrar da pesada carga de ter que querer assumir um império, sendo o primeiro a admitir que eles não são pessoas sérias.

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Shiv pôde escolher e no final uma mulher como ela que passou a vida sendo deixada de lado pelo pai e pelos irmãos, que sempre teve que se mostrar forte para sobreviver seja na politica, seja no meio corporativo, acaba por optar por um final medíocre ao voltar a viver a sombra de um homem, se tornando a esposa grávida do CEO, exatamente como a mãe que ela tanto criticou viveu.

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Já Kendall terminou como sempre termina apostando tudo e perdendo, ele pode até se recuperar e criar um negócio só seu, mas jamais vai conseguir esquecer que fracassou em obter o que mais desejava, o que ele declarou ser a única coisa que sabia fazer.

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Succession se despede com excelência e no momento certo, a temporada foi uma aula de como roteiro, direção e atuações consegue construir uma obra que ficará para sempre reconhecida como uma das grandes séries da atualidade.

Succession - Última Temporada (2023)

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