Produtor de nomes como BTS, IU e TXT, El Capitxn fala sobre bastidores do K-pop, processo criativo, paixão pelo Brasil e sua nova fase como artista solo.
O produtor e DJ sul-coreano El Capitxn já esteve por trás de sucessos que dominaram os charts globais, mas sua chegada ao Brasil marca o início de uma nova fase: a redescoberta do palco, agora como artista solo. Em entrevista exclusiva, ele compartilhou aprendizados da indústria do K-pop, revelou bastidores de hits como Daechwita e falou com entusiasmo sobre o funk brasileiro, ritmo que acaba de entrar em seu radar criativo.
Os bastidores da produção no K-pop
Logo no início da conversa, El Capitxn refletiu sobre o impacto de microdecisões no estúdio. “Às vezes até a respiração do artista pode mudar muitas nuances da música”, explicou. “Nosso trabalho é testar várias possibilidades até entender o que realmente funciona.”
Esse olhar minucioso é parte do que o tornou um nome requisitado por artistas como BTS, TXT e IU. Segundo ele, cada colaboração contribuiu para o desenvolvimento da sua identidade artística:
“O que me influencia é a intenção que cada artista coloca na própria música. Isso me lembra de por que eu comecei. Trabalhar com tantos cantores diferentes me trouxe de volta a vontade de ser um solista novamente.”
Essa reconexão consigo mesmo o levou, inclusive, a escrever um livro.
“A música emociona, mas a escrita comunica de forma mais direta. Escrevi esse livro porque queria ajudar pessoas que passaram por momentos parecidos com os meus.”
Outro ponto marcante da trajetória foi a transição de idol para produtor. Ao trocar os holofotes pelo backstage, ele percebeu o quanto os bastidores moldam o sucesso de um artista.
“Na época, eu achava que tudo o que conquistava era porque eu era bom. Depois que saí do grupo e fui pro backstage, percebi o quanto os staffs trabalham duro. Hoje tenho total noção do valor dessas pessoas.”
De “Daechwita” ao funk brasileiro
No estúdio, El Capitxn segue um processo criativo livre: às vezes começa por uma melodia, outras por uma ideia conceitual.
“Na verdade não existe uma ordem fixa, certa ou oficial. Vai de caso em caso, existem musicas que já tenho uma melodia e tem casos que apenas sento e começo a tocar o piano, até chegar numa melodia, assim como tem outros casos em que to com outro artistas e enquanto conversamos surge uma ideia. Então, não sigo nenhum método fixo. Por exemplo, as vezes estou de boa e algum barulho me chama atenção e penso que aquele som pode se tornar uma musica legal. A ideia pode vir de varias situações e momentos.”
Um dos maiores desafios foi a produção de Daechwita, sucesso de Suga (Agust D)
“Foi muito difícil. Os instrumentos tradicionais coreanos não combinam naturalmente com hip hop. De fato, eu e o Suga passamos muito tempo testando. Sempre brinco com ele: será que vamos conseguir fazer algo assim de novo?”
Misturar ritmos se tornou parte essencial de sua assinatura, e agora, isso inclui o funk brasileiro
“Gosto muito de funk! Conheci esse estilo recentemente, mas já comecei a produzir algo nesse ritmo ontem mesmo, no hotel. Quero lançar uma músicacom esse estilo, misturado com o que eu já faço. Vai ser diferente de tudo.”
Conexão pessoal com o Brasil
Mesmo antes de conhecer o país pessoalmente, El Capitxn já nutria um carinho especial pelo Brasil
“Sempre vi vídeos de shows e fiquei impressionado com a energia do público. As pessoas cantam mais alto que o artista!”
Agora que pisou em solo brasileiro, ele quer mais do que se apresentar: quer colaborar com artistas locais.
“Peguei um voo de 30 horas pra estar aqui. Isso mostra o quanto amo o Brasil. Quero voltar pra produzir com DJs brasileiros. De fato, isso é algo que eu penso seriamente em fazer.”
Durante a entrevista, ele ainda compartilhou momentos de gratidão e afeto
“Durante um ano recebi muitos ‘come to Brazil’, e agora estou aqui. Isso é uma bênção. Estou muito feliz, de verdade.”
Com humor, também contou que já está aprendendo português
“Já sei dizer ‘porra’, ‘1,2,3,4’, ‘te amo’, ‘oi’, ‘olá’ e ‘boa noite’. Quero aprender mais, prometo!”, brincou.
Ao final, deixou um recado para os fãs
“Estou começando esse novo caminho como artista solo. É um recomeço muito importante pra mim. Então peço muito amor e apoio nessa fase. E claro, muito amor ao Suga também! Obrigado de verdade.”
Apesar da intensidade das conversas, El Capitxn se manteve bem-humorado e receptivo. No encerramento, se descontraíu com a equipe, brincou em português e posou sorridente para algumas fotos, deixando um clima leve e amistoso que refletiu a sua personalidade cativante dentro e fora dos palcos.
Leia entrevista na íntegra:
Pergunta: Você consegue citar algum momento específico em algum dos seus trabalhos, em que uma microdecisão de produção como um reverb, uma pausa, uma nota, transformou completamente a música para você?
El Capitxn: “Esse é um dos motivos do trabalho de um produtor demorar tanto, as vezes até a respiração do artista na hora de cantar, pode mudar muitas nuances da musica. Justamente por isso, nosso trabalho como produtor é testar varias coisas, elementos e estilos, para poder qual será a melhor forma de construir aquela musica para o lançamento. Nós testamos coisas minúsculas na produção, então já passei por diversos momentos em que algo bem sutil, transformou a música.”
Pergunta: Você já trabalhou com varios artistas de destaque como BTS, TXT e IU. Como essas experiencias moldaram sua identidade como produtor e também artista solo?
El Capitxn: “Eu sinto que o que realmente me influencia, quando trabalho com artistas versos, na verdade é a intenção e vontade que cada artista põe em sua própria música. Trabalhar com tantos cantores diferentes, me traz de volta a vontade de ser um solista novamente. Além de ver o amor com que o publico recebe minhas produções, isso também influencia a voltar ter mais confiança num trabalho solo, como eu tinha antes.”
Pergunta: Você lançou um livro recentemente, o que motivou essa transição para a escrita? Há algo nesse livro que a musica nunca conseguiria expressar por você?
El Capitxn: “Na verdade, não é algo que “seja impossível” de expressar na música, justamente porque acredito que a musica não tem limites ou caminhos certos a serem seguidos. Eu pessoalmente acho que através da musica, conseguimos fazer as pessoas sentirem diversas emoções.
Mas, sinto que a escrita seja uma extensão disso, justamente porque conseguimos fazer com que a mensagem chegue mais detalhada e mais clara, do que numa música.”
“Eu passei dois anos escrevendo o livro, como eu já fui um artista solo e já passei por muitas situações difíceis. Acredito que o livro possa ajudar algumas pessoas que passaram ou estejam passando por situações parecidas com as minhas da época. Então o livro é uma forma de comunicação mais direta e mais clara, do que se eu tivesse criado uma musica.”
Pergunta: Você já foi idol e hoje está nos bastidores como produtor e DJ. O que mais aprendeu sobre si mesmo, nessa mudança de posição dentro da industria?
El Capitxn: “Na epoca eu era cantor, então como artista eu tinha uma visão mais limitada. Obviamente que cantores também trabalham muito duro. Mas eu pensava que tudo o que eu conquistava e fazia, era exclusivamente porque “eu era bom” “era o melhor”. Mas depois que sai do grupo e tive a possibilidade de estar por trás de tudo, não ser mais a pessoa ali em evidencia no “spot light” mas sim a pessoa que está ali produzindo, criando e ajudando outros Idols. Percebi que na verdade, essas pessoas que estão por trás, trabalham muito duro e que sem os staffs, é impossível que o artista esteja no palco. Sinto que na epoca que era apenas cantor, eu não tinha essa percepção e noção da importância do trabalho dessas pessoas. Então sair do grupo e estar na posição dessas pessoas, de estar por tras, no backstage, foi o que me permitiu ter essa visão.”
Pergunta: “No seu processo criativo você costuma partir de uma ideia conceitual, de uma melodia ou deixa o som te guias? Isso muda quando trabalha para outros artistas?”
El Capitxn: “Na verdade não existe uma ordem fixa, certa ou oficial. Vai de caso em caso, existem musicas que já tenho uma melodia e tem casos que apenas sento e começo a tocar o piano, até chegar numa melodia, assim como tem outros casos em que to com outro artistas e enquanto conversamos surge uma ideia. Então, não sigo nenhum método fixo. Por exemplo, as vezes estou de boa e algum barulho me chama atenção e penso que aquele som pode se tornar uma musica legal. A ideia pode vir de varias situações e momentos.”
Pergunta: Você define o Brasil como palco dos seus sonhos, que tipo de conexão artistica espera construir com seus fãs brasileiros?
El Capitxn: “Eu já pensava que tinha uma conexão com o Brasil mesmo nunca estado aqui, mesmo nunca vindo para cá anteriormente. Eu sentia que a musica me ligava ao publico brasileiro. Eu realmente falei que o Brasil era meu palco dos sonhos, justamente por já ter visto videos de shows aqui no Brasil. E eu percebi que o publico tem um calor diferente, o publico canta mais alto que o artista. Por isso sempre quis cantar aqui, então estou muito ansioso para meus shows no próximo final de semana.”
Pergunta: Em faixas como Daechwita, você mistura ritmos tradicionais coreanos com batidas contemporâneas, como foi esse processo de produção e o que te inspira nesse estilo de experimentação?
El Capitxn: “Sempre falo isso quando me perguntam sobre Daechwita, mas eu sinto que foi uma musica muito dificil de produzir justamente por causa disso. Os sons dos instrumentos tradicionais coreanos, são muito diferentes dos sons dos elementos do hiphop, então casar os dois numa musica foi um processo muito dificil que eu passei com o Suga. Eu precisava achar o meio entre os dois, algo que não soasse nem muito tradicional nem muito hiphop. Então passamos muito tempo produzindo e na verdade eu nem lembro exatamente como chegamos no resultado final. Iamos experimentando, testando e fazendo novas versões e uma hora chegou na versão lançada. Inclusive, falo muito com o Suga “será que um dia vamos conseguir fazer uma musica igual Daechwita de novo” justamente porque o processo foi mega difícil e não lembro como chegamos no resultado. Então eu e Suga não sabendo se conseguiremos reproduzir numa nova musica.”
Pergunta: Você gostaria de colaborar com algum artista brasileiro no futuro? Alok e DJ Chapeleiro são possíveis combinações interessantes, o que acha da ideia?
El Capitxn: “Na verdade quero muito e penso sim. Eu peguei um voo de 30h para estar aqui, justamente por amar muito o Brasil. Então quero voltar e produzir algo com os DJs brasileiros sim.”
Pergunta: Sua identidade como El Capitxn é uma cara de liderança e inovação. Se pudesse levar um elemento da cultura brasileira para fundir com o kpop e k-hiphop, qual seria?
El Capitxn: “Na verdade, gosto muito de funk! Ainda não tive a oportunidade de produzir algo parecido com o funk, justamente por fazer pouco tempo que conheci esse ritmo. Por estar muito em trend agora, naturalmente conheci o ritmo dessa forma, e eu gosto muito. Quero muito fazer um funk ou algo bem similar, mas podendo colocar minha identidade e mesclar com algo que já faço. Inclusive, ontem no hotel estava produzindo algo com esse estilo e espero algum dia poder lançar e mostrar para todo mundo!”
El Capitxn em recado final: “Eu to muito feliz de estar aqui no Brasil, durante um ano recebi diversos “come to Brazil” e por isso estou muito feliz de estar aqui após esse um ano. Acredito que isso seja uma benção para mim, finalmente ter essa oportunidade e recepção, então sou muito grato. Além disso, assim que eu voltar para a Coreia, quero ligar e agradecer ao Suga, que foi uma das pessoas que me possibilitou chegar onde eu estou hoje e estar aqui podendo me apresentar no Brasil.”
“Também estou muito honrado e gostaria de agradecer todos vocês que estão aqui, que tiraram um pouco do seu tempo para estar aqui comigo nessa coletiva. Um curiosidade que gostaria de falar, é que estou desde ontem aprendendo algumas palavras em português como “porra” “1,2,3,4” “te amo” “boa noite” alem de “olá e oi”.“
“Agradeço demais pela presença de todos e pelo interesse em saber mais sobre mim e meu trabalho. Estou começando esse novo caminho como artista, peço muito amor e apoio para mim nessa fase e também muito amor ao Suga! Obrigada.”