A espera e a curiosidade finalmente acabaram, agora, a audiência do streaming passou a ser computada. Se antes era apenas especulado o tamanho da fatia de público que havia sido arrematada pelas plataformas, agora, os números vem a público, e de forma latente exemplificam como o consumo mudou nos últimos anos.
A mudança de consumo nos últimos anos
Desde meados dos anos 2000, as emissoras de televisão começaram a sofrer com a instabilidade de sua audiência. A Globo começou a ver seus números serem pulverizados, enquanto a Record subia e de forma animada, tinha como slogan “A caminho da liderança”. Enquanto isso, o SBT sofria uma crise em seu horário nobre. Já a Band, mantinha os mesmos números, que sempre lhe garantiram o quarto lugar, ou até beliscar o terceiro.
Foi a partir de meados de 2010 que o “boom” da internet jogou luz ao problema que viria pela frente, as redes sociais passaram a “viralizar” de forma que tomaram para si o ponto de diálogo e discussão dos brasileiros. Desafios óticos foram criados (quem não se lembra do vestido preto e lilás que parecia branco e dourado?), memes a rodo caíram na rede, como também as discussões políticas se acentuaram no período. A internet mostrou sua força ao também se tornar um foco de informação e disseminação de conteúdo de maneira mais hard.
É com a entrada da internet, que a audiência da TV passa a cair. Se antes o principal problema eram as redes, o boom do streaming no Brasil, também serviu para potencializar a migração. Com serviços como a Netflix, que reinou absoluta até 2020, o consumidor passou a escolher o que queria assistir, e no horário em que queria. A partir daí, narrativas foram criadas, como a de que o streaming poderia por fim na TV aberta, ou se tornar um forte concorrente.
Enfim, os números
O Painel Nacional da Televisão, conhecido pela sigla PNT, é a métrica utilizada para medir a audiência das 15 regiões metropolitanas de maior consumo do país. Segundo o Kantar Ibope Media, instituto responsável pela medicação, cada ponto 1 corresponde a 717.088 pessoas.
As praças analisadas são: São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Distrito Federal, Salvador, Fortaleza, Recife, Belém e Manaus.
Os números representam os consolidados dos streamings como um todo (Netflix, YouTube, entre outros). O share – porcentagem a esquerda – representa o percentual de aparelhos ligados no momento da medição.
Consolidados de Quinta-feira (26/01/2022) | Média das 24h |
Globo | 11,7 |
Streaming | 7,7 |
Record | 3,6 |
SBT | 3,0 |
TV Paga | 2,9 |
Band | 0,9 |
No recorte de audiência, a média/dia do streaming o põe em 2º lugar, a frente da Band, como também da TV paga. O recorte demonstra o quão o público se encontra carente, já que desde a pandemia, Record e SBT vem sofrendo pela falta de planejamento. As sucessivas reprises, aliada a falta de novos conteúdos, fizeram o público fugir, seja para o streaming, seja para a Globo, que em 1 ano, recuperou a liderança nas tardes.
Porém, o streaming ganha força no horário nobre, das 18h às 0h, momento em que as principais emissoras padecem. Record e SBT vivem a crise de suas novelas bíblicas e infantis, a Band lida com a baixa audiência do programa do Faustão, enquanto a Globo buscar reerguer os horários das 19h e 21h, onde suas novelas não vem obtendo o resultado esperado.
Consolidados de Quinta-feira (26/01/2022) | Média do Horário Nobre (18h às 0h) |
Globo | 20,2 |
Streaming | 11,7 |
Record | 5,1 |
TV Paga | 4,6 |
SBT | 4,5 |
Band | 1,9 |
A preferência no horário demonstra que o público carente de boas programações nos canais lineares, optam por escolher o próprio entretenimento. Fato é que nem mesmo o escapismo proposto pela TV paga foi capaz de enfrentar o leque que o catálogo do streaming proporciona.
O que esperar?
Fato é que ambas as mídias caminham em paralelo. A ascensão do streaming, não significa o fim da TV, que se mantem sólida, vide a Globo, já citada, que elevou sua audiência em 2022, e em 2019, chegava a marcar 44 pontos com a novela das 21h, A dona do Pedaço.
O que cabe as demais emissoras, é seguir o que já vem sendo feito pela Globo, como também pela ESPN na TV paga, ao integrar o streaming na TV aberta, realizam a manutenção de consumo e agregam para si. Dessa maneira reduzem os custos, como também conseguem atingir mais parcelas do público.
O streaming não deve ser tratado como concorrente, mas como agregador. A Record pode aproveitar o PlayPlus e revitalizá-lo, expandir a capacidade de seu próprio streaming, que está deixado de lado entre os planos da emissora. Já o SBT Vídeos, está trazendo de voltas as novelas da emissora aos poucos, além dos bem-sucedidos programas de auditório que fizeram história na programação, como também um catálogo de filmes. A Band, disponibiliza o seu conteúdo, além de desenhos e filmes, na plataforma Band Play.
Ainda há um caminho a ser explorado para a revitalização da TV aberta, como também, para a inclusão do streaming de forma mais assertiva pelas TVs. Enquanto isso, as métricas dos streamings que já estão sendo utilizados, auxiliarão o mercado a compreender o momento, a investir e a ensinar a concorrência como se comportar.
Seja onde, quando e como quiser, o consumidor segue dando play, ou colocando o bombril na antena e trocando as pilhas do controle remoto.